terça-feira, 12 de outubro de 2010

Há dias que odeio as pessoas de quem gosto



Ron Evans
  Há dias que odeio as pessoas de quem gosto e já nem sei o que é gostar. Odeio porque tenho que odiar. Odiar faz parte de um processo mais ou menos moroso, dependendo do gostar, até se deixar de gostar. Depois de odiar vem aquele momento de indiferença, de tanto faz e de não querer saber. Gosto especialmente quando já não gosto. Sentir-me livre de quem nunca me quis para si. Apressar todo esse processo pode ser sempre a melhor e mais inteligente solução quando o gostar apenas se faz num sentido. Odiar tudo de um só ímpeto e esquecer aquilo que merece ser esquecido. Abandonar. Largar aquilo que não nos pertence e que nunca estará no nosso caminho e que apenas a presunção nos fez querer ter. Odeio gostar. Odeio. Odeio a sensação de me importar com aquela pessoa que não se importa, com muito pouco ou até com nada. Pessoas que não se importam merecem ser odiadas e não gostadas, nem nada que se assemelhe com tal palavra que traz consigo admiração e respeito. Pessoas que não se importam não merecem e pronto. Chega. E respira. Preciso respirar e expandir o ar que o gostar me roubou. Não me quero importar com pessoas que respiram livremente enquanto me tiram o ar sem se importarem e sem se aperceberem. Tomar pouca atenção é uma coisa que as pessoas que não se importam mais fazem. Já devia adivinhar. Já devia aprender a não gostar. E o tempo. Aquele que perco a pensar nelas e aquele que gasto a querer estar com elas. O tempo que passa e me deixa passar. Passar e esquecer que passámos e vivemos. Não quero mais estar sem sentir aquilo que mereço sentir. Não quero mais estar ligada à indiferença, não quero nada com ela. Palavras meramente simpáticas deixam-me magoada, e já não quero saber se a culpa é minha ou do gostar. Mas sinto-me magoada e odeio. Odeio isto. Não quero mais isto. Não vou deixar mais que a puta da mágoa brinque assim comigo, nem as pessoas que não se importam. Vou viver, quero viver e respirar. Sentir a adrenalina em cada parte do corpo e rir. Rir com as pessoas que se importam e que merecem ser gostadas. Esquecer. Esquecer aquilo que merece ser esquecido porque nunca me lembrou.

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